quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sabão em pó

Às análises dos fatos:

- era a minha primeira semana dividindo o apartamento;
- o apê era no 4. andar e não tinha elevador;
- eu estudava de manhã e a menina que dividia o quarto comigo (“Alitche”) trabalhava num bar e chegava às 4am;
- eu não falava italiano;
- ela (Alice) só falava italiano;
- eu tinha o sorriso simpático de uma brasileira empolgada recém-chegada naquela terrinha;
- ela P. da vida de juntar o seu quebra-cabecinha imaturo italiano generalizado: brasileiraétudosafada, temumaaquisorrindopramim, naminhacasa, naminhaterra, quenãofalaumapalavraemitaliano.

Como o no$$o porquinho ainda não nos dava ao luxo de ter uma lavadora-de-roupas dentro do banheiro (ter lavanderia é coisa de país largo, grande, espaçoso), juntei 5 ou 6 dias de roupa suja e todos os produtos necessários para a minha primeira lavagem self-service de roupas: amaciante, sabão em pó liquido e moedinha € para eu trocar por fichinha.

Era setembro. Solzinho gostoso e Milão ainda quietinha naquelas primeiras 7.30 horas do dia. E graças ao Dio lá que a lavanderia era embaixo do meu prédio...

Entrei no recinto, me surpreendi com a falta de um “bom dia humano” e vi que o único calor que poderia vir era do trambolho da máquina de secar que tava lá no fundo a esquerda...

Segui direitinho as instruções. Escolhi a máquina de lavar do meio, coloquei os produtos, travei a porta frontal, coloquei a fichinha e nada da queridinha funcionar...

Esperei + alguns minutos e nada! Com o coração mais acelerado já sentia, via e não queria acreditar que a maledeta máquina não ia girar não...

E o que fazer? – perguntei para os tufos cinzas (conglomerado de pêlo de cobertor, fiapo de toalha e cabelo) espalhados pelo chão... Ligar por número que estava pregado na parede para ser usado nos casos de emergência? Mas como explicaria que a máquina (como é máquina-de-lavar-roupas em italiano?) tava quebrada? que não funcionava? pelo telefone? – mímica era impossível...

Mas respirei fundo. Pensei bem e achei a mais perto solução do meu maior problema: a mocinha que só tinha dormido umas 3 horas e que ainda tinha o pré-conceito: brasileiraétudosemvergonha, temumaaquipertodemim, comduplacidadania, naminhaterra, meacordando, quenãofalaumapalavraemitaliano.

E subi pra casa. Peguei meu dicionário e fui lá dar um cutucãozinho na ragazza:

- “Lice” (eu achando q ser íntima amenizaria toda a situação)
Lice, Lice: lavatrice – e busquei a outra página: rota

Ela girou para o outro lado e disse:

- “Non mi rompere il coglione”

Até eu, que não entendia italiano, entendi tudo! E o “num me enche o saco” dito em letras garrafais às 8 da manha foi como uma facada certeira no meu coração, uma fungada de choro preso na garganta e meu problema sem solução.

Fui pra cozinha, sentei, escorreu uma lágrima e enquanto tentava achar uma outra alternativa eis que a porta se abre:

- “ANDIAMO!”

Pulei da cadeira! Não contive meu sorrisosemvergonhadebrasileirafelizzzdenovo e descemos para resolver meu probleminha...

Minha heroína era uma pirralha de 1.55m! Que ligou pro tal numero emergência, xingou um monte o cara do outro lado e literalmente lavou a roupa suja.

Só que para finalizar aquela manhã toda ensaboada do que viria a ser uma grande amizade (italianassãobemmaismalandrasqueasbrasileiras) eu vejo um dedinho indicador apontado para minha cara e um desabafo que instantaneamente eu traduzi:

- “Nunca mais me acorde às 8 horas da manhã”

Eu monossilábica respondia:

- “si si, grazie grazie mille”

E com o passar dos meses lavei e centrifuguei mais uma superstição de um monte de italianinha que hoje sabem que existem brasileirasEbrasileirasdesimpatiageral...

Um comentário:

Tenile Vicenzi disse...

elaiá...q saudades da bota!!!